Governo Lula: uma relação entre a popularidade de um governante com a economia

Existe um famoso ditado entre cientistas políticos e economistas de que a economia influencia diretamente a popularidade dos presidentes. Aliás, James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton em 1992, popularizou essa ideia ao demonstrar que a principal preocupação dos eleitores naquele pleito era a economia. Essa percepção foi fundamental para a vitória de Clinton sobre George H.W. Bush.

Essa frase — ou melhor, essa lógica — pode nos ajudar a entender a dinâmica política do Brasil na atualidade. Embora ainda faltem mais de 18 meses para a eleição presidencial de 4 de outubro de 2026, a corrida eleitoral já está em pleno andamento. Nos primeiros meses de 2025, diversas pesquisas apontaram um cenário preocupante para o atual Presidente da República.

Entre janeiro e março, levantamentos dos institutos AtlasIntel, Datafolha, Ipec, PoderData e Quaest, entre outros, indicaram uma queda na popularidade do governo Lula 3. Algumas dessas pesquisas, inclusive, mostram um índice de reprovação superior ao de aprovação.

Ao analisar esses resultados, fica evidente um fator determinante para a crescente avaliação negativa do governo federal: a economia. Quando falamos de economia, abordamos tanto aspectos técnicos, como a alta do dólar, que impacta o preço dos alimentos e pesa diretamente no bolso da população, quanto questões políticas e de comunicação, como a polêmica em torno do Pix e a percepção pública sobre os impostos no Brasil.

No campo econômico, existem, de maneira geral, dois tipos de políticas: fiscal e monetária. De forma resumida, as políticas fiscais são conduzidas pelo governo, especialmente pelo Ministério da Fazenda, e dizem respeito à arrecadação de impostos e aos gastos públicos. Já as políticas monetárias são de responsabilidade do Banco Central do Brasil e estão relacionadas à definição da taxa de juros — a Selic.

Outro fator importante para a análise é entender que desde 1999 o Brasil adota o chamado Tripé Macroeconômico, baseado em câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário. Esse sistema foi responsável por garantir estabilidade econômica ao longo dos anos.

No entanto, recentemente, o câmbio no Brasil disparou. O dólar bateu os R$ 6,20 e, embora tenha iniciado um movimento de queda, a expectativa, segundo o Boletim Focus, é que feche 2025 próximo de R$ 6. Em relação à inflação, em 2024 o índice ultrapassou o intervalo de tolerância, e tanto os números atuais quanto as projeções para 2025 indicam que continuará acima da meta. Além disso, o Brasil registrou um déficit primário de R$ 11,032 bilhões em 2024, equivalente a 0,09% do PIB.

O que tudo isso significa? Significa que os brasileiros estão sentindo no bolso os impactos do atual cenário econômico, e essa insatisfação se reflete em uma opinião negativa sobre o governo federal. Enquanto o presidente criticava publicamente o ex-presidente do Banco Central pela política monetária, a política fiscal batia na porta,com todas as dificuldades e polêmicas das reformas orçamentárias e tributárias.

No final das contas, a icônica frase de James Carvilledurante a campanha de 1992 continua válida no Brasil. E se não houver mudanças nas diretrizes econômicas do governo, esse pode ser o principal obstáculo para uma possível reeleição do petista. A grande questão, no entanto, é que, caso essas mudanças ocorram, há o risco de que sejam focadas apenas no curto prazo, negligenciando o médio e longo prazo da economia brasileira. Medidas desse tipo já foram adotadas no passado e resultaram na maior recessão da história recente do país — também sob gestão do mesmo partido.

Por fim, nesse cenário de incertezas políticas e econômicas no país, o governo recentemente anunciou que trabalhadores CLT podem pedir empréstimos usando o FGTS, outra política alvo de críticas. Enfim, finalizado esse artigo com outra icônica frase, desta vez de Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do governo FHC, “no Brasil, até o passado é incerto”.

Escrito por Jhonattan Washington, economista

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