Os Estudantes: A nova galinha dos ovos de ouro

Nas últimas décadas, assistimos a um fenômeno político recorrente em nosso país: a instrumentalização da causa estudantil como estratégia eleitoral. Em Pernambuco, este movimento ganha cada vez mais forma, com a oposição ao governo de Raquel Lyra explorando demandas legítimas dos estudantes – seja na alimentação, infraestrutura, falta de materiais escolares, fardamento ou ausência de ar-condicionado em salas sufocantes – como terreno fértil para cultivar apoio político.

A fórmula parece tentadora: identificar carências nas escolas e transformá-las em bandeiras de oposição. O cálculo político faz sentido, já que o eleitorado jovem vem tendo participação expressiva nas últimas eleições, sem contar a influência que exercem sobre pais e familiares no momento do voto.

Porém, muitos políticos ignoram que essa “galinha dos ovos de ouro” pode rapidamente se transformar em força de cobrança contra aqueles que a utilizam apenas como alavanca para chegar ao poder. A oposição que hoje explora essas demandas provavelmente enfrentará, em um eventual futuro no governo, a mesma pressão que ajudou a criar. Ao instrumentalizar os estudantes como ferramenta de oposição, colhe-se depois a inevitável cobrança quando se está do outro lado.

Os exemplos cruzam espectros ideológicos. O PSB, hoje na oposição, enfrentou durante seus governos diversos protestos estudantis, demonstrando que mesmo administrações com propostas “progressistas” para a educação não ficaram imunes às reivindicações e à pressão dos estudantes.

Na esfera federal, o governo Lula – eleito com mais que o dobro das intenções de voto entre jovens em comparação a Bolsonaro nas eleições de 2022 – agora enfrenta greves nas universidades, institutos federais e escolas, após cortes na educação. O segmento estudantil, que depositou esperanças e foi decisivo para sua vitória, agora lidera greves e protestos, demonstrando que seu apoio não foi um cheque em branco, mas um contrato com cláusulas bem definidas.

É aqui que reside o perigo para qualquer político que flerte com esta estratégia: uma vez politizados, os estudantes não se contentarão com quebra de promessa. A mesma juventude que luta por ar-condicionado nas escolas e melhoria na merenda das universidades não hesitará em voltar às ruas para cobrar quem, ontem opositor dessas condições, hoje ocupa a cadeira do poder.

Para Raquel Lyra, o desafio é claro: ela tem pouco mais de um ano para resolver problemas crônicos da educação pernambucana e melhorar sua imagem com os estudantes, não apenas através de propaganda institucional, mas buscando resultados palpáveis no cotidiano escolar. Para a oposição, a lição é evidente: após incentivar mobilizações e aparelhar os estudantes, é preciso estar preparado para, quando no poder, entregar resultados melhores.

A “nova galinha dos ovos de ouro” da política brasileira não é mais dócil nem facilmente manipulável. Tem consciência própria e não hesita em usar seu poder, principalmente midiático, para cobrar de quem quer que seja. O político que não compreender esta realidade descobrirá, da pior forma, que a faca de dois gumes pode cortar aqueles que a usam apenas como arma contra adversários, sem compromisso real com a transformação que prometem.

Escrito por Lucas Miguel, presidente da União Bezerrense dos Estudantes Secundaristas (UBES), Diretor Nacional de Operações e ex-líder Nacional Secundarista da Juventude Livre (UJL)

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